segunda-feira, junho 19, 2006

Centro Cultural da Praia


Por Kildare Rios e Marília Magalhães
Foto Marília Magalhães

HISTÓRIA
A história da Vila Morena, primeira construção da orla de Fortaleza, começou em 1920, quando o pernambucano José de Magalhães Porto desafiou os conselhos de amigos, que alertavam que a praia era perigosa e suas ondas eram muito fortes, instalando ali a sua moradia e dedicando o nome dela, como era usual na época, à sua amada esposa Francisca Frota Porto, de apelido Morena. Foi o próprio José de Magalhães que ajudou o antigo Porto das Jangadas, que depois se chamaria Praia dos Peixes, a se chamar Praia de Iracema, bem como influenciou para que as ruas próximas à Vila tivessem seus nomes inspirados em tribos indígenas do Ceará.
A edificação da Vila foi feita em taipa, sem ajuda de engenheiros, e ali foram empregados materiais nobre, importados da Europa, como as vidraças das portas que vieram da França, as duas escadas caracol de ferro, fabricadas na Inglaterra e os vasos sanitários e louças oriundos da Alemanha. Além do luxo interior, o Coronel Zé Porto caprichava nos jardins de plantas raras, onde tinha prazer em receber amigos e parentes, além de povoar o espaço externo com pavões, araras, jacamins e guarás brancas, tudo isso ao redor de uma linda piscina, sem dúvida a primeira da cidade.
O marido de dona Francisca também teve grande influência no surgimento do bairro naquele lugar ermo, trazendo linhas de bonde, calçamentos e eletricidade. Ele que teria trazido à cidade o costume antes ignorado de tomar “banho de mar”, alugando calções de banho e as sete casinhas de veraneio que construíra em frente à Vila Morena.

O CLUBE USO
Durante a Segunda Guerra Mundial a família Porto saiu da Vila Morena, deslocando-se para uma outra casa ao lado e cedendo aquele espaço para o “United State Office”, que usou o local como clube de veraneio para seus soldados. Conta-se que vários artistas famosos de Hollywood vinham fazer shows ali, para entreter os soldados, dentre eles a dupla Nelson Eddy e Ilona Massey do filme Balalaika.
Foi nos arredores do USO que surgiu o termo “garota coca-cola”, para denominar as moças mais atiradas da época, que se encantavam com os soldados norte-americanos que lhes ofereciam o refrigerante ainda não conhecido por aqui, afirma Eridan Matos, funcionária da Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF), deslocada para atuar junto ao Centro Cultural da Praia, que funciona nas dependências da antiga Vila Morena. Ela afirma que “as garotas passavam por aqui e achavam os rapazes bonitos, e eles, para atraí-las, lhes ofereciam Coca-Cola, refrigerante que elas ainda não conheciam”.

O ESTORIL
Terminada a guerra, o exército norte-americano devolveu à sociedade cearense o prédio da Vila Morena. Foi quando ali foi inaugurado o restaurante Estoril, por um casal de portugueses que resolveu investir na capital cearense. Reduto de intelectuais e artistas, ponto de encontros proibidos, românticos ou políticos, o bar Estoril chegou ao clímax quando trouxe a “escandalosa” Luz Del Fuego, que fez o único show vestida de sua história, por exigência do arcebispado de Fortaleza. Sempre comandado pelo cearense Zé Pequeno, o bar e restaurante teve atividade por mais de quarenta anos, quando foi sendo abandonado por seus antigos freqüentadores, que foram morrendo ou deixando a vida boêmia de lado. “Eu me lembro bem de vários freqüentadores, mas quase todos faleceram: Rogaciano Leite Filho, Thmoskhenko - que foi preso na revolução de 64 - Cristiano Câmara, Airton Monte, e eu acho que o Blanchard Girão também freqüentava”, afirma o historiador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, que ainda lembra que “...a casa toda era de taipa. Foi quando ruiu... deixaram cair para reconstruir.”

O CENTRO CULTURAL
Hoje fazem 11 anos que o prédio da Vila Morena foi reinaugurado, depois de uma reforma que foi, na verdade, uma restauração, visto que a torre ruiu por conta do abandono a que o prédio fora submetido. “Em 1995 o prédio estava em ruínas e a prefeitura de Fortaleza o recuperou, acompanhando o mesmo estilo arquitetônico. Recuperou o prédio e montou aqui o Centro Cultural da Praia”, afirma ainda Eridan Matos. Porém o Centro Cultural da Praia teve pouco tempo de atividade plena: “Aqui antigamente, entre 1995 e 1998, mais ou menos, tinha muitos lançamentos de livros, cursos de artes plásticas e música. Às quartas feiras vinha um grupo de poetas, repentistas (...) No momento só a galeria está em atividade, mas os cursos estão suspensos. Também é emprestado o espaço, por exemplo, para o Jornal O Povo, para os ensaios do coral do jornal, quando é solicitado”, acrescenta Eridan.
O Centro Cultural da Praia, porém, faz parte de um projeto da PMF que pretende reformar treze espaços históricos e devolvê-los como presentes à cidade de Fortaleza, evento que integra as comemorações de 280 anos da cidade. Dentre eles, a estátua de Iracema da Avenida Beira Mar, que já foi entregue, dia 28 de março, além da caixa d’água do artista plástico Leonilson, na Praia de Iracema; estátua de Iracema de Zenon Barreto, na Praia de Iracema; anfiteatro da Volta da Jurema; Passeio Público; Praça do Liceu; Zoológico Sargento Prata; estátuas da Padaria Espiritual, na Praça do Ferreira (Café Java); Clube de Regatas da Barra do Ceará (onde será construído o primeiro CUCA – Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte); Estádio Presidente Vargas; Bar Avião; Paço Municipal e Centro Cultural da Praia, o Estoril.

SERVIÇO
O Centro Cultural da Praia, Estoril, funciona na Rua dos Tabajaras, 406, Praia de Iracema, das 8 às 21 horas, de domingo a domingo, com exposições de artes plásticas. Entrada Franca.

Um comentário:

Anônimo disse...

Perto do Estoril, nos irresgatáveis anos 60, a praia de Iracema era tão limpa que costumávamos levar nossos filhos ainda bebês para tomar banho de mar numa pequena enseada, formada pelo quebra-mar, carinhosamente chamada de "piscininha". Não havia medo nem buraco na camada de ozônio; ali ficávamos até a tardinha, numa alegria gratuita e plena. Éramos felizes e não sabíamos...